sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O homem da vitrine

 Um dia, caminhando pela rua, olhei para uma vitrine e vi a figura de um rapaz. O encarei. Ele me encarou também. Sorri. Ele permaneceu na seriedade na qual se encontrava. Talvez eu até tenha visto um sinal de desagrado ou raiva em seu olhar. As marcas de espinha pelo seu rosto me diziam que ele não era muito mais velho do que eu. Seu olhar me falava que algo importante aquele homem tinha a me dizer. Mas nenhum pio, nem uma palavra. Sua expressão me preocupava. Aquele rapaz poderia sair dali e procurar briga. Ainda assim permaneci ali, sustentei o olhar. Continuei a encarar aquela criatura a qual eu não reconhecia e que demonstrava tanta proximidade e rancor para comigo. Será que nos conhecíamos? Será que inconscientemente eu o provoquei algum mal? Não sou lá o tipo mais simpático para se relacionar, mas eu tento. Acenei para aquele rapaz que me despia com o olhar. Me desnudava do meu bom ser, me deixava nú de todo o meu lado bom. Me dava medo a forma como me reprovava. Me aproximei daquela vitrine. Fiz que entraria naquele aposento. Mais uma vez ele me reprovara. Retornei. Outra vez sorri praquele homem. Um sorriso que buscava desculpas pelo que quer que eu tenha feito a ele. Estendi a minha mão. Ele repetiu o movimento. Nos tocamos através da vidraça. Falei bem baixinho: "me desculpa!?". Agora ele sorria pra mim. Ainda um tanto desmotivado, mas era um começo. Foi então que percebi que aquele rapaz irreconhecível era apenas o reflexo do meu ser. Profundamente insatisfeito com o que eu me tornei. Novamente o pedi perdão. Disse a ele que eu não tenho culpa por ser assim como sou, apenas segui as regras do jogo. O jogo da vida. Ele ainda sorria. Agora como se me entendesse. Disse a ele pra não se preocupar, que um dia tudo ia se acertar e no fim ele teria orgulho da gente. Quis abraçá-lo. Agora ele parecia tão mais simpático. Como um velho amigo. Foi então que uma senhora muito simpática chegou na porta da loja e educadamente perguntou o que eu desejava. Disse a ela que o que eu queria era ser feliz. Ela sorriu e me disse: "todos buscam a felicidade, ainda sem saber oned encontrá-la. E sempre que a encontram, já não são mais satisfatórias." Sorri pra ela e me despedi. Continuei o meu caminho para casa. De alguma forma feliz, por ter encontrado a felicidade em mim e ter me aceitado como sou.

Um comentário:

  1. que leitura gostosa acabei de faze... lindo o texto marcos, muito lindo.

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